quinta-feira, dezembro 12, 2002
Doce inferno!
por Ana Rachel
Dentre as várias coisas que escuto, dentre os mais variados estilos musicais que gosto, há uma peculiaridade básica que os une: vozes femininas. Sou uma apaixonada por vocais femininos, de todos os gêneros. Doces ou berrantes, eles imperam na minha modesta coleção de discos.
Tenho um ritual, um processo de seleção para escolher a trilha sonora que vai embalar meu dia. Fatores como humor e clima são os principais. Hoje acordei meio triste e só conseguia pensar em uma coisa para se ouvir: Beth Orton. Putz, mas as letras dela não são super melancólicas e introspectivas? Aham, mas sabe-se lá por que tenho essa tendência a ouvir coisas tristes quando estou triste.
Enfim, catei meu discman e fui pro meu curso de alemão. Assim que saí de casa, me deparei com um tremendo sol e com um calor insuportável. Então, além de estar triste e estar sob aquele sol, comecei a ficar puta. Coloquei meus óculos escuros, os headphones e fui pro ponto esperar pelo meu ônibus, com ar-condicionado, é claro! O cd escolhido da Beth Orton foi o Daybreaker, seu mais recente trabalho.
O som da Beth Orton é ótimo, o estilo predominante é o folk, que muitas vezes aparece misturado com elementos eletrônicos, principalmente trip hop. É engraçado, porque às vezes parece que você está ouvindo Everything But The Girl, mas na maioria das vezes ela soa como a maravilhosa Suzanne Vega. Bom, duas faixas depois, meu ônibus chegou. Eu, como sempre a mais enrolada, quis entrar por trás, quando a entrada era pela porta da frente. Tive que dar aquela corridinha, aquela que o fôlego de uma fumante compulsiva fica horas pedindo arrego. Saco! E o cd ainda ficou pulando...
Sentei lá no fundo e fiquei relaxando no fresquinho. Ouvi uma música chamada “God Song” e, enquanto ela rolava, me sentia no céu, naquele ar-condicionado, vendo as pessoas pelo vidro, naquele inferno de 40 graus do centro da cidade. Outras lindas músicas seguiam, como uma chamada “This One’s Gonna Bruise”, que conta com a participação do country boy Ryan Adams. De vez em quando é possível perceber uns violinos e violoncelos no disco, além dos já famosos beats, inseridos sutilmente em suas músicas, sendo eles na medida certa e que em nenhum momento atrapalham a sonoridade dos doces violões. Esse é sempre um dos pedidos da cantora, que desta vez foram cumpridos pelos produtores, os Chemical Brothers. Eu estava totalmente entretida com toda poesia de Beth Orton, e é incrível como ela parece ser tão especial, e como tudo parece ser tão paradoxal. Nunca entendi direito esse lance de fazer letras tristes pra melodias alegres e dançantes e vice-versa... mas hoje, como eu estava dentro do ônibus, não podendo sair dançando e pulando por entre os bancos, fiquei lá prestando atenção no que ela dizia nas músicas mais alegrinhas. As letras são tristes sim, mas dependem de um contexto... ela mesma disse isso numa entrevista uma vez, que suas letras eram por um lado triste e por outro alegre, “isso só depende se você é uma pessoa half-empty ou half-full”. E, por incrível que pareça, comecei a me sentir bem melhor, considerando-me assim, uma half-full.
Quarenta minutos depois eu já chegava ao meu destino, o Goethe Institut, onde há o ar-condicionado central mais potente que eu conheço. Pode estar fazendo 50 graus no Rio de Janeiro que lá nunca passará de 20. Gott sei Dank! O cd já estava na última faixa, a lindíssima “Concrete Sky”, que tem uma participação do Johnny Marr nas guitarras. Por fim chego a duas conclusões. A primeira é que depois que se escuta Beth Orton, o conceito de folk-banquinho-violão fica ultrapassado, e quem achar que folk tem alguma coisa a ver com música sertaneja, precisa tirara a prova real. E a segunda, é que com esse calor, com certeza farei curso de verão de alemão. Bis Bald!
Obs: O cd que tenho da Beth Orton é gravado. Ou seja, é um cd-r, o que explica a última faixa dele ser a “Concrete Sky”, quando no original ela é a segunda. Alguém já viu os preços dos cd’s dela nas importadoras? Sic!
por Ana Rachel
Dentre as várias coisas que escuto, dentre os mais variados estilos musicais que gosto, há uma peculiaridade básica que os une: vozes femininas. Sou uma apaixonada por vocais femininos, de todos os gêneros. Doces ou berrantes, eles imperam na minha modesta coleção de discos.
Tenho um ritual, um processo de seleção para escolher a trilha sonora que vai embalar meu dia. Fatores como humor e clima são os principais. Hoje acordei meio triste e só conseguia pensar em uma coisa para se ouvir: Beth Orton. Putz, mas as letras dela não são super melancólicas e introspectivas? Aham, mas sabe-se lá por que tenho essa tendência a ouvir coisas tristes quando estou triste.
Enfim, catei meu discman e fui pro meu curso de alemão. Assim que saí de casa, me deparei com um tremendo sol e com um calor insuportável. Então, além de estar triste e estar sob aquele sol, comecei a ficar puta. Coloquei meus óculos escuros, os headphones e fui pro ponto esperar pelo meu ônibus, com ar-condicionado, é claro! O cd escolhido da Beth Orton foi o Daybreaker, seu mais recente trabalho.
O som da Beth Orton é ótimo, o estilo predominante é o folk, que muitas vezes aparece misturado com elementos eletrônicos, principalmente trip hop. É engraçado, porque às vezes parece que você está ouvindo Everything But The Girl, mas na maioria das vezes ela soa como a maravilhosa Suzanne Vega. Bom, duas faixas depois, meu ônibus chegou. Eu, como sempre a mais enrolada, quis entrar por trás, quando a entrada era pela porta da frente. Tive que dar aquela corridinha, aquela que o fôlego de uma fumante compulsiva fica horas pedindo arrego. Saco! E o cd ainda ficou pulando...
Sentei lá no fundo e fiquei relaxando no fresquinho. Ouvi uma música chamada “God Song” e, enquanto ela rolava, me sentia no céu, naquele ar-condicionado, vendo as pessoas pelo vidro, naquele inferno de 40 graus do centro da cidade. Outras lindas músicas seguiam, como uma chamada “This One’s Gonna Bruise”, que conta com a participação do country boy Ryan Adams. De vez em quando é possível perceber uns violinos e violoncelos no disco, além dos já famosos beats, inseridos sutilmente em suas músicas, sendo eles na medida certa e que em nenhum momento atrapalham a sonoridade dos doces violões. Esse é sempre um dos pedidos da cantora, que desta vez foram cumpridos pelos produtores, os Chemical Brothers. Eu estava totalmente entretida com toda poesia de Beth Orton, e é incrível como ela parece ser tão especial, e como tudo parece ser tão paradoxal. Nunca entendi direito esse lance de fazer letras tristes pra melodias alegres e dançantes e vice-versa... mas hoje, como eu estava dentro do ônibus, não podendo sair dançando e pulando por entre os bancos, fiquei lá prestando atenção no que ela dizia nas músicas mais alegrinhas. As letras são tristes sim, mas dependem de um contexto... ela mesma disse isso numa entrevista uma vez, que suas letras eram por um lado triste e por outro alegre, “isso só depende se você é uma pessoa half-empty ou half-full”. E, por incrível que pareça, comecei a me sentir bem melhor, considerando-me assim, uma half-full.
Quarenta minutos depois eu já chegava ao meu destino, o Goethe Institut, onde há o ar-condicionado central mais potente que eu conheço. Pode estar fazendo 50 graus no Rio de Janeiro que lá nunca passará de 20. Gott sei Dank! O cd já estava na última faixa, a lindíssima “Concrete Sky”, que tem uma participação do Johnny Marr nas guitarras. Por fim chego a duas conclusões. A primeira é que depois que se escuta Beth Orton, o conceito de folk-banquinho-violão fica ultrapassado, e quem achar que folk tem alguma coisa a ver com música sertaneja, precisa tirara a prova real. E a segunda, é que com esse calor, com certeza farei curso de verão de alemão. Bis Bald!
Obs: O cd que tenho da Beth Orton é gravado. Ou seja, é um cd-r, o que explica a última faixa dele ser a “Concrete Sky”, quando no original ela é a segunda. Alguém já viu os preços dos cd’s dela nas importadoras? Sic!