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terça-feira, outubro 29, 2002

WALK UP
por Helio Medina & Bureta Supastars
e-mail: yeahwalkup@bol.com.br
www.abureta.hpg.ig.com.br

Música Brasileira Em Primeiro Lugar

Nos últimos dias eu praticamente só tenho ouvido música brasileira. É, mas não naquele sentido estrito da Rede Nova Brasil e rádios afins.
Música brasileira para mim é música feita nesse país, por brasileiros, independente do jeito que essa música é feita.
Um bom exemplo desse conceito são dois disquinhos que, em comum, só têm o fato de serem curtinhos. Um é o novo ep do Magic Crayon, Whatever You Say is a Lie ( So Fucking Romantic) e o outro é Eu e a Brisa, do Johnny Alf. Dois discos de música genuinamente brasileira, seja ela indie ou bossa nova.

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Vamos começar pelo Magic Crayon. A banda já ganha pontos na minha preferência por ter dois integrantes fanzineiros. Gilberto, o baixista, é editor do Esquizofrenia, enquanto Megssa, a vocalista, é editora do Popadelic. Claro que isso não faz uma banda ser boa ou ruim. O que vale é boa música e, nesse critério, a rapaziada marca mais pontos ainda.
Esse é o segundo ep do Magic Crayon e, como o primeiro, a banda cuidou da gravação, lançamento e da distribuição do mesmo. Tudo bem mão na massa mesmo.
O primeiro ep tinha a já clássica Love Doesn´t Happen That Way. Nesse novo ep, a sonoridade da banda está ainda mais entre o suave e o rústico, a ponto de ser quase impossível delimitar uma linha divisória. As letras têm algo a dizer, retratando um pouco o cotidiano indie kid. Romances idealizados, sair para dançar, dançar sozinho no quarto. O vocal
de Megssa está uma delícia - ouça com fone de ouvido! Além disso, o clima de gravação caseira parece ter deixado a banda ainda mais entrosada.
O disco começa com Start. Quando vi o nome da canção, pensei naquelas Intro, dos discos de hip hop. Nada a ver. A canção tem uns pá-pá-pá-rá-pás que não saem da minha cabeça a semanas. Impressiona logo de cara. Outra que logo agrada é Air Guitar Man, sobre aquele delicioso hábito nerd de escutar discos trancando no quarto e fingindo estar tocando a guitarra. Hábito que já deu origem até a campeonatos de air guitar mundo afora! Confesse, que nerd nunca fez isso na vida? Só faltava um hino para nós e aí está ele.
A faixa título e There´s Something Black That Makes Me Blue são daquelas canções que não chamam a atenção logo de cara. Só lá pela quarta audição comecei a perceber detalhes e a curtir as canções. Nessas duas faixas o que mais impressiona é o vocal da Megssa. Grande garota!
A última faixa é experimental e me lembra o disquinho instrumental do Genius + Love, do Yo La Tengo.
Com cerca de meio hora de duração, o disco ficou gostoso de ouvir, sem cair em excessos.
Bem que a gravadora espanhola Siesta poderia juntar os dois eps do Magic Crayon num só cd e lançar lá fora.

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Ah, não posso deixar de citar a bela arte do cd, assinada pela Fernanda Joy e pela Megssa. Uns desenhos bem legais, clima de fanzine.

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Outro disquinho com pouco mais de meia hora e cara de lp de vinil é Eu e a Brisa, de Johnny Alf.
Este delicioso disquinho mostra o lado mais jazzístico da bossa nova, aquele onde estavam o Tamba Trio, Dick Farney e Sergio Mendes. Além disso, traz uma sonoridade que influenciou boa parte da moçada da gravadora Trama, em especial o Jairzinho e o Simoninha. Esse último, por sinal, já deu sua leitura para a faixa título deste disco.
Exímio pianista, vocal suave, ritmo por todos os lados, Alf parece pronto para ser sampleado por algum japonês esperto. Eu e a Brisa é uma canção deliciosa, mas o disco têm ainda outras canções a serem redescobertas, como Céu Alegre, Imenso do Amor e Se Eu Te Disser. Quase todas as canções têm a assinatura de Johnny Alf. Uma assinatura que ajudou a definir a bossa nova, esse maravilhoso encontro de Pixinguinha com Chet Baker, que se tornou o jazz brasileiro e influência de muita gente mundo afora. Ouça esse disco e depois ouça Niza e Monaural Voice e me diga se não há um parentesco entre eles.

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Na minha coluna anterior eu cometi uma mancada. Pesquisando numa biografia online de Harold Melvin e os Blue Notes, descobri que o vocal principal em Wake Up Everybody é, na verdade, de Teddy Pendergrass, um dos Blue Notes. Claro que isso não diminui minha admiração por Herald, que fundou e era a alma do grupo, mas eu não podia de dar o devido crédito ao Teddy. Bendito seja Teddy Pendergrass!

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Não sei se os jornais por aí noticiaram, mas em julho último morreu o baixista Ray Brown, aos 75 anos.
Brown fez parte, nos anos de ouro do be bop, da lendária banda de Dizzie Gillespie, que era completada por Charlie Bird Parker, Max Roach e Bud Powell. É, você leu direito: esses cinco senhores já estiveram todos juntos numa mesma banda!
Na noite de sua morte, faltava meia hora para uma apresentação de Brown no Jazz Kitchen, em Indianapolis. O baixista resolveu tirar um cochilo e não acordou mais. Deve ter partido para novas jams com Parker e Gillespie.

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Enciclopédia Nerd

O western spaghetti, o violento faroeste produzido na Itália, ficou conhecido por toda uma geração de brasileiros como bang bang à italiana, nome da sessão semanal destes filmes, exibida pela tv Record.
O bang bang à italiana ficou por anos renegado como um gênero medíocre de cinema, mas sempre esteve vivo no coração de antigos fãs. Por isso, tem gente mundo afora dando valor a esses filmes, seja o zine americano Teleport City ou a revista brasileira DVD WORLD WESTERN, que além de lançar O Dólar Furado, grande clássico do gênero, em dvd, ainda o traz acompanhado com um encarte glorificando o estilo. Além disso, temos a Mythos Editora, finalmente dando um tratamento decente às edições brasileiras de Tex.
É, parece que agora é o momento de vingança desse bang bang mais crú, sem aquele excesso de moral que acabou afogando o western gringo. O bang bang à italiana era o universo ideal para caçadores de recompensa solitários que, quando não estavam caçando foragidos, estavam farreando em saloons com belas mulheres.
O gênero acabou revelando grandes astros, como Giuliano Gemma, Franco Nero e até mesmo Terence Hill!
Ouvir aquele tema assobiado de O Dólar Furado é uma deliciosa viagem no tempo, num faroeste sem frescura, do tempo em que o Jece Valadão ainda era cafajeste e a revista Peteca estava nas bancas. Um mundo onde a vida de um homem pode ser salva por uma moeda de um dólar que ele trazia no bolso! E um mundo onde a palavra cowboy não tinha nada a ver com festa de peão boiadeiro. Tempo bom, não volta nunca mais.

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Para pesquisar mais:

Magic Crayon: www.indiepages.com/magiccrayon
Disco do Johnny Alf: www.movieplay.com.br
Morte de Ray Brown: www.cafe52.com
Teleport City: www.teleport-city.com

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